O Padrão do Chão Salgado

 

 

A História de Portugal se tem episódios gloriosos outros há dos quais temos mesmo é que sentir uma enorme vergonha. Aparecem-nos inseridos numa época propícia a exageros mas, deixam-nos muitas dúvidas analisados à luz da justiça que presidiu a tudo quanto aconteceu. Faço estas considerações pensando no processo que foi levantado aos Távoras e que culminou com a sua tortura e execução com requintes de crueldade impróprios de aceitar. 


Tudo começou com um assalto à carruagem onde viajava o rei D. José I, na noite de 3 de Setembro de 1758, quando regressava de um encontro amoroso com a nora do Marquês de Távora. Dado que o rei logo deu carta branca ao seu 1º Ministro, o Marquês de Pombal, para descobrir os autores do assalto, este , diz-se, terá aproveitado a ocasião para fazer urdir uma teia envolvendo os Távoras e seus parentes mais chegados, levando a crer terem sido eles os mandantes do atentado. Tudo isto porque, Sebastião José de Carvalho e Melo mantinha determinada antipatia com a nobreza e, com aquela família em particular. Também , em relação aos Jesuítas como tinha igualmente vontade de os aniquilar, procurou e conseguiu, incriminá-los no assunto. Enfim, tudo quanto a história trouxe até nós faz-nos crer que, em boa verdade não foi justiça que se fez, antes se tratou de prepotência, pura vingança e abuso de poder.
Reparemos por exemplo que a defesa dos réus entregue às 16 horas do dia 11/1/1759, nesse mesmo dia teve já agravadas as penas previstas em lei. No dia 12 foi redigida a sentença e a execução efectuou-se logo na manhã do dia 13. Ninguém, de boa fé, pode acreditar ter havido boas intenções num caso tratado deste modo, creio eu.


Por morte de D. José I, quando a filha D. Maria I subiu ao trono, uma das primeiras decisões foi justamente afastar o 1º Ministro, ordenar um inquérito à sua actuação e providenciar uma revisão do Processo dos Távoras que os reabilitou e declarou inocentes. Tanto quanto possível foram também devolvidos os títulos e bens confiscados à família.
Bom, mas toda esta explicação foi dada foi no sentido de vos dizer que ali em Belém, justamente na rua com o mesmo nome existe um estreito beco que dá acesso a um minúsculo espaço onde podemos encontrar esta coluna que se mostra na foto. É o Padrão-memória do suplício dos Távoras e os cinco anéis que o compõem representam cada uma das cinco cabeças dos condenados. Seria ali o lugar do palácio do cunhado do Marquês de Távora (Duque de Aveiro) também incriminado e executado. O seu palácio foi arrasado e o chão foi em seguida salgado para que nada ali voltasse a nascer e, como atesta a lápide,neste terreno infame não se poderá edificar em tempo algum.

Essa maldição não se cumpriu pois, o vasto terreiro do chão salgado, foi a pouco e pouco ocupado por moradias que, hoje deixam pouco mais que o espaço ocupado pelo Padrão. Mas o nome ainda subsiste: _O BECO DO CHÃO SALGADO. Páginas pouco dignificantes da nossa história mas que devemos conhecer.